segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um a um

Existem aquelas partidas de futebol que entram para a História. Pois uma que eu jamais poderei esquecer certamente não está entre elas: Brasil e Canadá, 1994. Um dos últimos amistosos da seleção antes da Copa do Mundo dos Estados Unidos.

Eu estava no hall de um hospital no Rio de Janeiro. Minha bisavó estava na cama do mesmo, internada - câncer - aos oitenta e poucos anos. Eu era menino com meus dez e dessa época pouco me lembro, mas aquele jogo jamais vou esquecer. Se você espera que eu cite a escalação do escrete canarinho ou o prenome do juiz, esqueça. Lembro-me, e bem, do futebol ruim apresentado pela seleção, do jogo chato e do resultado: 1 x 1. O país inteiro ficou decepcionado. Como um time que empata com a insossa seleção do Canadá, sequer classificada, quer ter a menor pretensão de ser campeão do mundo? “Impossível” - pensei. Minha mãe, que estivera o tempo todo acompanhando minha bisavó no quarto, me perguntou pelo placar do jogo. Como se eu pudesse não saber: “Um a um” - respondi. Estarrecedor o seu comentário: “Melhor assim, do que a seleção ir pra Copa muito confiante.”. Confesso que achei a opinião de minha mãe um despaupério, mas relevei pelo fato de ela pouco entender de futebol - torce pelo Fluminense, a coitada. Mal sabia eu...

Terminado o ano de 1994, o Brasil havia ganhado o tetracampeonato; minha família havia perdido a sua matriarca. Nada de Galvão Bueno entrando em êxtase ou Dunga levantando a taça, eu me sentia mais como o Baggio após perder o pênalti. Desolado.

A vida é como o futebol. Metáfora medíocre, é verdade, mas válida. A vida é uma caixinha de surpresas e quem não faz, leva. Quando a gente se empolga o bandeira marca impedimento. Quando está sem rumo, vem o zagueiro adversário e deixa escapar a bola, pronta para você chutar para o gol vazio. Sempre tem um beque para pisar no seu calcanhar, mas sempre tem o momento em que seu time arma um contra-ataque oportuno. É só saber agir rápido, driblar os fantasmas, botar entre as pernas do inimigo pra surpreender pela ousadia. Requer treinamento, é claro, mas também se joga por instinto.

Um empate como aquele contra o Canadá pode ser o prenúncio da glória de um título mundial, minha mãe bem sabia. Mas certas derrotas são realmente duras de engolir. Minha bisavó, a vovó Dora, era filha de italianos, personalidade forte. Torcia para o Flamengo, como eu, e fazia um incomparável nhoc (é assim que se escreve?). Seu já falecido marido, Manoel, foi um dos fundadores do Americano de Campos. Minha bisavó contava que ele era goleiro do time e marcou um gol chutando de sua própria área. Feito histórico.

Não sei se comentei que nhoc (!) é o meu prato favorito... E eu nunca mais terei novamente um como aquele da vovó Dora. Todos os meus próximos nhocs tiveram e terão um gosto diferente. Um gosto de empate.

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